Transformando Lugares em Experiências: As Tendências da Arquitetura com Mídia para 2020
Emily Webster, Chefe de Arquitetura com Mídia da ESI Design, compartilha quatro tendências que vão modificar os espaços físicos para melhor em 2020.
Neste ano as pessoas esperam encontrar espaços públicos mais interessantes. Há um burburinho em torno dos espaços públicos que combinam os mundos físico e digital para criar experiências imersivas. Mas, tendo a tecnologia como parte integrante de nossas vidas, se não participarmos ativamente da combinação entre o físico e o digital, teremos espaços mal projetados, repletos de publicidade e fluxos de notícias 24 horas. As instalações digitais devem ser tratadas como um material arquitetônico que precisa ser tratado com cuidado, bem projetado e com propósito. Felizmente, esses espaços minuciosamente projetados estão ganhando espaço cada vez mais, graças a uma prática emergente chamada Arquitetura com Mídia. Antes de examinarmos algumas das tendências emergentes, vamos defini-la.
A Arquitetura de Mídia combina o dinamismo das instalações digitais com a organização do projeto físico e arquitetônico. Ao integrar telas digitais personalizadas e efeitos audiovisuais artísticos em paredes e fachadas, ela permite que materiais estáticos contem histórias. Essa união transforma a maneira como as pessoas se conectam com o espaço e entre si, produzindo um novo tipo de relacionamento.
Como Chefe de Arquitetura com Mídia da ESI Design, lidero a nossa equipe para desenvolver novas formas de contar as histórias de nossos clientes através de projetos da mídia arquitetural de larga escala. Primeiro começo entendendo o que os visitantes devem ver e percorrer ao longo de sua jornada, para depois definir se e qual tecnologia precisa ser incluída no projeto. Se houver um motivo legítimo para incluir pontos de contato com a tecnologia, a próxima pergunta é: “Qual é a melhor tecnologia para a experiência em questão?” Tratamos os componentes digitais dinâmicos como mais um material na nossa paleta de arquitetura, juntamente com as outras opções de materiais tradicionais. O “digital” não é diferente dos pisos ou da iluminação. É através da adição de materiais digitais que criamos edifícios que se tornam plataformas flexíveis de narrativa. O resultado final é uma experiência que dinamiza um espaço, empolga e é capaz de expressar uma narrativa, seja num parque, museu, ambiente trabalho corporativo, loja ou outro espaço público.
Mas nós também encontramos maus exemplos da Arquitetura com Mídia. São instalações dissonantes, com telas de TV que parecem ter sido presas a uma parede aleatoriamente, exibindo informações e comerciais de TV, desorientando os visitantes e perturbando o espaço. Portanto, para ajudar a destacar o que separa a Arquitetura com Mídia das expectativas típicas do “digital”, quero compartilhar cinco tendências que estão transformando o mercado para melhor em 2020.
TENDÊNCIA 1: Mídia Arquitetural Reativa e Ativada por Movimento
A Arquitetura com Mídia reativa, ativada por movimento, pode ser uma das tendências com crescimento mais rápido, devido à maneira como amplia a energia natural de um espaço. Quando essas ativações digitais são capazes de refletir o movimento dos seres humanos em um espaço, elas proporcionam experiências surpreendentes e inesperadas aos transeuntes, funcionários e público.
Esse efeito é exemplificado pela mídia encontrada nas torres de escritórios “The Crossroads”, na cidade de San Mateo, Califórnia. No saguão estão painéis digitais com paisagens da Califórnia, preenchidos com plantas e animais que reagem aos visitantes quando eles entram no edifício. Os cervos deslizam para longe quando as pessoas passam pela porta da frente, um urso pode encará-lo se você demorar muito ou flores podem desabrochar enquanto caminhamos pelos sete monitores LCD panorâmicos de grande formato.
Da mesma forma, no “Terrell Place”, na capital Washington, um mural de LED com 158 metros quadrados apresenta animações reativas das icônicas cerejeiras da cidade. À medida que as pessoas passam pelo mural, as cerejeiras brotam e florescem, enquanto os galhos balançam. Borboletas se aproximam de quem para no saguão.
A mídia reativa também funciona para criar momentos que fortalecem marcas. O artista Daniel Rozin criou para a Nespresso uma grande escultura circular motorizada. Nela, 832 azulejos decorados com o alumínio reciclado de tampas de café se movimentam em resposta aos transeuntes.
Estas intervenções reativas permitem que o movimento de um visitante pelo edifício seja destacado e retribuído, transformando a atividade cotidiana de entrar no local de trabalho em um evento que vale a pena, e exemplifica como a mídia digital pode ser específica para cada local e respondendo àqueles que frequentam o edifício.
TENDÊNCIA 2: Mídia Arquitetural Interativa
A Arquitetura com Mídia interativa leva as respostas passivas de peças reativas a um novo patamar, permitindo que os usuários tenham contato com uma variedade maior de respostas ou níveis mais profundos de conteúdo. Esse tipo de arquitetura com mídia será uma tendência importante em 2020, porque facilita as conexões pessoais, tão importantes para os empregadores, marcas e instituições.
A sede global do eBay, no Vale do Silício, abriga um exemplo excepcional desse tipo de arquitetura com mídia no "Main Street", seu vibrante hub comunitário de 1.860 metros quadrados. Essa instalação interativa envolve os visitantes numa rica história sobre a enorme comunidade de usuários da empresa e o volume de transações realizadas. A peça central da Main Street é uma parede touchscreen com quase 5 metros de altura, que permite aos usuários explorar as transações mais recentes do eBay. Essa combinação de um painel de informações com um fluxo de informações sobre as vendas, permite aos funcionários verem como as ferramentas que constroem e o trabalho que realizam afetam a vida das pessoas. Ele lembra que o maior mercado on-line do mundo não se trata apenas de vendas.
O Museu da Estátua da Liberdade de Nova York, inaugurado em maio de 2019, usa a arquitetura de mídia para mergulhar os visitantes na história, no impacto e no legado de um dos marcos mais emblemáticos do mundo. Um destaque do museu é a exposição interativa Becoming Liberty. Em 10 quiosques interativos de dupla face, os visitantes podem refletir e documentar sua visita ao museu fazendo um autorretrato e selecionando quais imagens retratam a sua ideia de liberdade a partir de uma colagem de imagens inspiradoras. Elas são adicionadas a um mosaico digital de 12 metros em constante ampliação, que exibe em tempo real os dados sobre como os participantes veem a liberdade no mundo hoje.
TENDÊNCIA 3: Arquitetura com Mídia Orientada por Dados
Ouvimos muitos clientes expressarem o quanto ficam nervosos ao incluírem componentes digitais em seus espaços. Eles ficam preocupados com a manutenção contínua, necessária para “alimentar a fera” que é uma plataforma digital integrada. No entanto, se você pensa em "conteúdo" como algo que pode ser inovador e impulsionado por dados em tempo real, você ficará subitamente ocupado pela necessidade de criar continuamente conteúdos de mídia pré-produzidos.
Embora a mídia reativa e interativa amplifique o comportamento das pessoas em um edifício, a Arquitetura com Mídia orientada por dados permite que a ativação tenha reflexos no comportamento de uma instituição inteira. Se você identificar conjuntos de dados relevantes para o seu cliente, poderá usar estas informações para criar visualizações em tempo real, que se relacionam com seus funcionários e visitantes.
Essa abordagem capta a essência abstrata de uma marca ou propriedade, desde transações da empresa (como a parede multitoque no quartel-general do eBay no Vale do Silício) até o clima local e o fluxo diário dos visitantes de um edifício, transformando-os em histórias visuais cativantes que conectam todos em um espaço.
A “The Tower” do PNC Plaza, em Pittsburgh, dá um exemplo notável dessa tendência. Neste que é um dos arranha-céus mais verdes já construídos, há uma instalação de 7,5 metros de altura no lobby chamada “The Beacon”. A escultura em forma de lustre traduz em tempo real os dados sobre sistemas verdes do edifício, bem como as condições ambientais, clima, ocupação do prédio e incidência de luz solar, tudo seguindo um padrão de luz, cor, texto e som em constante mudança.
Os dados climáticos também alimentam o “Sensing Change”, uma instalação artística que transformou um terraço ao ar livre e pouco convidativo, no centro de Chicago, em um oásis urbano. Usando a parede de concreto maciço de uma garagem lateral como tela ampliada, a peça exibe em tempo real a condição ambiente em padrões abstratos que lembram a luz do sol ondulando através de árvores, chuva caindo ou nuvens correndo pelo céu.
Em Los Angeles, o “Walt Disney Concert Hall” comemorou o 100º aniversário da Filarmônica de Los Angeles com a apresentação de músicas e sons. A sala de espetáculos chamou o artista Refik Anadol para transformar a fachada do edifício com projeções deslumbrantes, baseadas na história musical da instituição. Trabalhando com os programas Artists e Machine Intelligence do Google Arts and Culture, Anadol extraiu os arquivos digitais da orquestra - quase 45 Terabytes de dados - para criar visualizações algorítmicas que imitam o processo do sonho humano.
TENDÊNCIA 4: Arquitetura com Mídia Personalizada de grande escala
Para integrar verdadeiramente a mídia à arquitetura, os monitores precisam ir além do formato de tela 16:9, familiar em TVs e telefones, e passar para novas relações de tamanho personalizados, projetados especificamente para cada ambiente. É aqui que entra em cena a arquitetura de mídia personalizada em escala épica. Felizmente, as novas tecnologias permitem que os designers trabalhem com telas incomuns em uma escala cada vez maior.
Sem as limitações das bordas, os painéis no lobby do “575 Fifth Avenue”, em Nova York, envolvem firmemente as paredes e colunas no espaço. O conjunto de telas é integrado arquitetonicamente, exibindo aos inquilinos e visitantes uma ‘fatia horizontal’ retirada do edifício para ver através das paredes, até os limites da metrópole.
Em um shopping center de Barcelona, na Espanha, os clientes são convidados a brincar em uma homenagem interativa à arte em mosaico. Ela se apresenta em uma tela LED circular de 210 metros quadrados no piso central, rodeada por outra tela suspensa com 68 metros de comprimento.
O banco britânico Barclays apresentou recentemente um exemplo grandioso do seu compromisso com a inovação - uma instalação com sinalização digital de ponta na fachada da sua sede na Times Square, em Nova York. Com 655 metros quadrados, os displays de LED personalizados e perfeitamente integrados se tornaram a face digital do Barclays na cidade. Com a largura total de um quarteirão, essa experiência de mídia digital em escala épica interrompe a caminhada dos pedestres com visuais vibrantes e narrativas baseadas em dados para comunicar o papel do Barclays no progresso dos negócios e da sociedade.
A maioria das pessoas pensa na tecnologia digital como uma superfície plana, mas, e se ela ganhasse vida com uma forma mais orgânica? No “Central Standard Building”, em Chicago, a peça central do amplo saguão é um anel de LED curvado. Levitando no entroncamento das múltiplas entradas do edifício, este painel digital é visível de qualquer ângulo e reproduz conteúdo alimentado por dados, dando à peça um toque único. A instalação icônica foi feita sob medida para este espaço público e a tela LED circular tem uma impressionante circunferência de 32 metros.
Ideias finais
À medida que a mídia digital conquista espaço em todos os espaços públicos, também se torna importante para os designers usar a tecnologia com sabedoria. Essas tendências da mídia arquitetural refletem múltiplas possibilidades para integrar vídeo, iluminação, áudio e outras tecnologias dinâmicas a uma construção, a fim de promover uma relação bidirecional entre um espaço e as pessoas que o ocupam. As possibilidades de usar esta arquitetura para criar experiências personalizadas seguirão em expansão nos próximos anos, à medida que os avanços tecnológicos continuam a fornecer às marcas, varejistas, desenvolvedores e instituições culturais maneiras interessantes de dar vida às histórias.
Sobre Emily Webster
No comando da prática pioneira de arquitetura com mídia da ESI, Emily Webster lidera e inova na maneira de integrar a tecnologia à arquitetura. Trazendo uma abordagem estratégica para a implementação criativa de tecnologias interativas de A/V, ela ajuda seus clientes a criar experiências atraentes e significativas, que destacam uma marca ou propriedade no mercado. Ela vê edifícios como plataformas que podem ser adaptadas ao longo do tempo, conforme as necessidades do espaço ou dos negócios.